domingo, 15 de fevereiro de 2015

CAMÕES


Camões nasceu do Canto que o criou
converteu-se na poesia que escreveu
na corrente melodiosa que amanheceu em si
de um jogo de harmonia de ondas e de asas
e de uma formosura descalça seminua como Vénus
apenas com um cendal branco sobre a coroa carnal
 
O génio de Camões conhecia as centelhas de ouro
que reunia em flores de harmonia
os lábios de chamas dilacerantes
Ele cantou com as mãos em sangue
e com lágrimas de asas feridas
a maravilha fatal da vida
da luminosa música
de um amor perdido de uma saudade inextinguível
 
Cantou a pátria, a pátria do seu povo e do seu peito
dos navegadores e dos amantes em palavras
de melodiosa audácia de uma nostalgia pura
Dilacerante e doce era o incêndio do seu amor
de acorde deliciosos de claras mágoas
em que a ferida de amor se transmudava
e se elevava num grito redondo numa neblina azul
 
O seu amor era um claro incêndio de lágrimas e de chamas
e sempre um canto e sempre a dor
como se a música e o pranto jorrassem da mesma fonte
e os contrários se unissem na identidade da água
em que o poema se converte numa melodia de
ondas radiosas
de elementos puros duma elegia no aroma de
dilacerante doçura
 
Camões está vivo não por um prestígio dourado
mas pelo claro fogo que deu uma vida nova à Língua
Portuguesa
e nunca recusou à dor o direito de viver como um grito
e de a converter sem a trair sem a desfigurar
mediante a transcendência da sua ascensão humana
 

ANTÓNIO RAMOS ROSA
in "Os signos da amizade"
em tarde de Inverno


3 comentários:

  1. em noite de inverno, sim, Ramos Rosa sob o signo de Camões


    um abraço, Petrus

    ResponderEliminar
  2. Assim existissem Camões, hoje, com essa dor de amar a Língua Portuguesa... mas o que há mais é quem a estrague.

    Bjs

    ResponderEliminar
  3. O que fizeram à língua de Camões? Ao Portugal épico de Camões? É pena e uma grande perda em todo o sentido!

    "Camões está vivo não por um prestígio dourado
    mas pelo claro fogo que deu uma vida nova à Língua
    Portuguesa
    e nunca recusou à dor o direito de viver como um grito
    e de a converter sem a trair sem a desfigurar
    mediante a transcendência da sua ascensão humana"

    Camões , sempre Camões de António Ramos Rosa!

    Abraço saudoso Petrus, aparece por lá...:)

    ResponderEliminar