sábado, 6 de julho de 2013

O Cerejal - terceiro acto


Fim de tarde, no último sábado.
O folheto de sala dava o mote: “quando Ulisses foi convocado para a sua missão (viagem) não fazia a mínima ideia de que o caminho seria longo, que os dias seriam de luta, que a vida seria imprevisível, cheia de surpresas…”
O Teatro Viriato – Apresentações Lugar Presente – deram-nos a conhecer um punhado de alunos (sete) que, no final do curso, prestaram “provas” daquilo que aprenderam ao longo de um ano de aulas.
O desafio consistia em fazer uma representação, a partir d’O Cerejal, de Anton Tchekhov, de forma “condensada”, que mantivesse a alma da peça original.
E devo dizer que o objectivo foi plenamente alcançado: durante cerca de 40 minutos ficámos como que “presos” ao que se passava em palco, a um ritmo alucinante, despertando as mais variadas emoções no público que acorreu em massa, manifestando-se ora com gargalhadas, quando se lhe deparava uma cena cómica, ora com silêncios sepulcrais, quando o assunto era demasiado grave e sério, e até muito actual, como era a cena que nos reportava à crise que o país atravessa: tudo como se tratasse da peça original: uma verdadeira trágico-comédia, como, aliás, é a peça original.
Ana, Isabel, Helena, Marisa, Paulo, Pedro e Sónia são os nomes dos amadores em palco que muito dignificaram a arte de representar.
Exemplificando: a Andreievna (que no caso adoptou o nome aportuguesado de Catarina) teve um papel de relevo ao longo da peça; impressionante, a forma como encarou a representação: perto do final, quando os espectadores perceberam que estava iminente a venda do cerejal (o lugar que sempre pertenceu à família ao longo de várias gerações, onde tinha o seu coração), disse com grande realismo dramático: “Eu nasci aqui, aqui viveram o meu pai e a minha mãe,  o meu avô. Amo esta casa. Não compreendo aminha vida sem o cerejal. E, se é preciso vendê-lo, então v e n d a m – m e  j u n t a m e n t e   c o m   e l e ”.
Logo de seguida entra o criado da família que dá a notícia da venda do cerejal.
E quem o comprou? – pergunta Catarina.
Fui eu. Comprei-o eu…!
Os gritos imediatos de desespero fizeram  subir, a um nível muito elevado, o sentimento de tragédia que acabara de atingir de forma brutal a protagonista: a representação foi de tal forma que o público, em silêncio, correspondia com uma atitude de compreensão e solidariedade para com aquela desgraça.

Para o êxito da última cena, muito contribuiu o papel de todos os actores, mas muito em especial o do criado da família [em duplo papel, já que no início da peça surgiu nas vestes de camponês], o qual esteve à altura de um autêntico profissional.

Um sucesso, principalmente se levarmos em linha de conta que todos os actores se dedicam ao teatro nos tempos livres, com enorme esforço e sacrifício pelo tempo que é roubado à sua vida pessoal e familiar.
No termo, um actor ofereceu cerejas à assistência.