segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O espírito do lugar


Encerrara as portas, havia largos meses!
Não estranhei.
De facto, a pastelaria, nos últimos tempos, já não era a mesma coisa!
Por volta de 2007 foi entregue a uns “brasileiros” (melhor dizendo: portugueses, regressados à pátria, com sotaque brasileiro,) que se encarregaram de destruir a imagem da casa. De pastelaria excelente passou a um banalíssimo balcão de segunda: a qualidade foi decaindo, decaindo… até que, um dia, no âmbito duma acção de fiscalização, a Asae determinou o seu encerramento! Ainda voltou a abrir , mas por pouco tempo: a falta de categoria dos responsáveis se encarregou de afastar os últimos clientes. E fechou as portas de vez.
Situada numa zona nobre da cidade, sempre pensei que, mais dia menos dia, seria ocupada por algum banco ou loja chinesa!
Mas não, foi resistindo, resistindo...
Até que, num belo fim de semana, a crónica habitual dum semanário local trazia a notícia da reabertura.
No primeiro sábado que pude, lá estava sentado ao balcão.
- Um café e nata!
Enquanto aguardava, dei uma vista de olhos pela sala e constatei que, na parede do fundo, lá estava o antigo vitral colorido que marcava a elegância e beleza doutrora!
E o relógio de parede!? - perguntei.
- Levaram tudo. Sabe que até o vitral quiseram arrancar?
O café soube-me tão bem que, a dada altura, dei comigo a recordar os meus dezasseis anos, altura em que ganhei a liberdade de ir para o café, a fim de estar com os amigos!
Contei à empregada que antigamente tinha sido cliente habitual mas que, devido à degradação do serviço, deixara de frequentar a casa.
Dei-lhe conta do desejo de ver restabelecido o bom ambiente doutrora…
- Estamos a reconstruir! Estamos a reconstruir!
Fiquei bem impressionado com o que vi. Voltei um, dois, três dias consecutivos..., tudo impecável; de tal forma que passei a alimentar a doce ilusão de que, efectivamente, estávamos perante um feliz caso de reconstrução do antigo lugar. Afinal, a cidade não estava totalmente perdida! Pelo menos, ali tinha um belo recanto identitário do seu velho espírito, coisa rara nos dias que correm.
Ontem, entrei para tomar café e ler o jornal. Sentei-me e comecei a ouvir uma música de fundo, volume alto.
Perguntei que música era aquela.
- M80, música da rádio – anos oitenta!.
!?
- Não gosta?
Bem, para ser sincero, preferia outro género, como por exemplo a erudita, mas… [queria dizer-lhe que preferia que não tivesse nenhuma, mas não me deu tempo!]
- Eu não gosto da clássica! Não podemos gostar todos do mesmo, não é verdade?

Bem, bem. Para reconstruir o lugar, quanto teeempo não faltará ainda!?