Manhã de sábado. Muito frio. Dirijo-me ao centro da cidade.
Passo pelo parque a fim de encurtar caminho e, ao mesmo tempo, usufruir da beleza e tranquilidade que a densa vegetação e arvoredo proporcionam. Apenas se ouvem os sons da natureza: o murmurejar da água que corre num sulco feito na terra rumo ao lago; e o rumor do vento que sopra contra as árvores, fazendo voar as últimas folhas do Outono.
É um espaço habitualmente muito frequentado por quem pretende desanuviar o espírito e furtar-se ao reboliço da cidade. Mas, hoje, nem vivalma.Passo pelo parque a fim de encurtar caminho e, ao mesmo tempo, usufruir da beleza e tranquilidade que a densa vegetação e arvoredo proporcionam. Apenas se ouvem os sons da natureza: o murmurejar da água que corre num sulco feito na terra rumo ao lago; e o rumor do vento que sopra contra as árvores, fazendo voar as últimas folhas do Outono.
Saio pela porta ao lado da domus justitiae, e deparo-me
com o Jardim Thomaz Ribeiro. O escritor tem ali erigido
um singular monumento: a “Glorieta”, que é uma estrutura em granito e azulejo
com o rosto do homenageado, feito por Jorge Colaço (o mesmo autor dos azulejos
da Estação de S. Bento, no Porto); é ladeado por estantes de pedra, onde, em
tempos, eram disponibilizadas as obras do Escritor. O conjunto, que inclui bancos de pedra, constituía uma verdadeira biblioteca pública, ao ar livre. Hoje encontra-se, com pena minha, muito danificado!
Tento esquecer, prestando atenção aos jactos de água que a fonte luminosa faz subir ao alto
para cair ruidosamente no lago. Noutros tempos, repleto de peixinhos que
faziam as delícias das crianças, agora nem sombra. É mais um sinal da
modernidade que sacrifica velhas
preciosidades a novas tecnologias, muitas vezes de discutível utilidade pública.
Sigo à direita, para o Rossio, sempre de braços abertos para os que passam a caminho do serviço ou a título de um simples passeio. De súbito, à minha frente, um grupo de saltimbancos exibe as suas
habilidades ao som de instrumentos tocados por músicos ambulantes. A autarquia
está empenhada em animar o comércio tradicional, que, de ano para ano, vai perdendo
público para as grandes superfícies.
Ainda extasiado,
quase sem dar por isso, dou comigo em plena Rua Formosa, sempre jovem e, agora, também letrada! É verdade, muito
recentemente, à porta do antigo mercado, foi implantada uma estátua do Aquilino Ribeiro: monumento em bronze, que representa o autor do Romance da Raposa, sentado à secretária, ao nível do chão, completamente à mercê do
público que por ali passa!
Entro na pastelaria, mesmo em frente da estátua.
Mal me sento, o empregado serve um café fumegante. O
aroma desperta os sentidos e incentiva a imaginação. Lanço um olhar através da
vitrine e vejo o Escritor... vivo! A sua caneta desliza sobre a folha em branco. As
letras sucedem-se, umas às outras até encher
completamente a página.
Estupefactos, os meus olhos assistem à revelação do mistério
que sempre preside ao acto de escrever. E logo do grande Aquilino! A página escrita, à minha frente, será
sempre a mais bela de toda a sua obra literária.